11 de out. de 2012

[Crônica] PEDRO LUSO - A Consulta pelo Plano de Saúde


  
                           por Pedro Luso de Carvalho


Anualmente consulto o oftalmologista. Há muitos anos, é sempre o mesmo. Na época em que tinha que aferir se as lentes dos meus óculos ainda estavam boas, soube que o médico encontrava-se no exterior. E que, por um ano, ficaria ausente do país. Então, marquei consulta com outro especialista. Mas não achei nada confortável consultar com um desconhecido.

O médico escolhido para a consulta tinha seu consultório instalado dentro de uma clínica oftalmológica, localizada num dos bairros nobres da cidade. Na recepção da clínica, fui atendido por uma elegante recepcionista. Ela pediu-me que aguardasse a chamada. Foi o que fiz.

Logo o meu nome foi pronunciado por uma delicada voz feminina. Entrei no consultório do médico desconhecido. Um homem alto fez sinal para que me sentasse. A cadeira era parte de uma peça única de duas cadeiras, uma frente à outra, tendo ao centro um suporte para a colocação do queixo.

O médico pediu-me para colocar o queixo no suporte. Em seguida, olhou os meus olhos, um de cada vez, através de uma lente luminosa. Depois, dirigiu-se à escrivaninha ao lado, onde escreveu alguma coisa num receituário. Entregou-me o papel e indicou-me a porta. Já no corredor, ouvi, pela primeira vez, a voz do oftalmologista: 

           – O laboratório para os exames fica no andar de baixo!

Saí do consultório, sem ir ao laboratório. Já acomodado no carro, e ainda espantado ante o atendimento do médico, concluí que a “síndrome do SUS” já havia atingido os usuários dos planos de saúde, para meu azar.



*  *  *


8 comentários:

  1. Pedro, pois é... fui testemunha ocular desse fato. Nessa crise dos médicos em relação aos 'planos de saúde', podemos sentir, de longe, o que deve ser o SUS; e como está a situação do país. Se, com referência aos nossos planos a coisa está a 'meia boca' - que uns fazem que pagam e outros fazem que trabalham -, nós que não temos nada a ver com o reboliço, ficamos na linha do fogo - mal atendidos.
    Lembro que eu quis perguntar, ao tal médico, alguma coisa mas não houve espaço e nem vontade de ouvir. E saímos na maior decepção! Nunca tinha visto isso.

    Enquanto uma faxineira ganha 100 reais por uma faxina, os médicos ganham migalhas por uma consulta de saúde. Parece que uma casa limpa tem mais valor.
    Gente que estuda, se especializa e no final é isso: insatisfação da parte deles e insegurança da nossa. Continuaremos pagando caro para sermos atendidos assim? Cadê a solução?

    Beijinho.

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    1. Taisinha,

      Tu tens razão, enquanto a política da União não valorizar como deve, a classe médica, todos pagaremos. Agora a solução do problema está nas mãos (ou na caneta) da presidente Dilma. Aguardemos.

      Beijinho.

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  2. Olá,Pedro. Grata por participar dos meus blogs. Mas, meu assunto aqui é outro. Li seu artigo. E algo parecido ocorreu comigo, mas em outra especialidade. Tinha uma consulta marcada (pelo plano de saúde) para as 10hs. Ao meio-dia, a médica ainda não havia chegado. Meia hora depois, me preparava para ir embora quando a tal médica chegou. Soube por informações de outros paciente que ela começaria a atender ás 13 hs. Dito e feito. Pontualmente, nesse horário os pacientes começaram a ser chamados. A sala de espera estava lotada. O pessoal entrava e não saía. Comecei a contar quantas horas ainda ficaria ali. Por fim, chegou a minha vez. Entrei na sala e a médica estava anotando. Esperei que terminasse. Mas, ainda escrevendo, ela perguntou qual era o meu problema. Expliquei rapidamente porque ela não parava de escrever. Pouco depois, ela estendeu o braço com alguns papéis. Eles continham pedidos de exames. Esperei alguns minutos para ver se ela dizia alguma coisa ou se daria alguma explicação. O que recebi foi uma bronca porque estava demorando na sala. Nunca mais voltei lá. Ao que parece, a coisa está se generalizando, não é mesmo?

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    1. Sueli,

      Infelizmente, o que ocorreu com você, na consulta que fez à médica (semelhante ao que ocorreu comigo, na consulta que fiz ao oftalmologista), parece estar se constituindo em regra em todo o Brasil, com os oportunistas planos de saúde, que cobram muito de seus associados, mas que pagam muito mal aos médicos credenciados.

      Se o governo da União não tomar medidas drásticas e urgentes para melhor regularizar esses planos de saúde, valorizando pacientes e médicos, logo estaremos completamente desamparados e com nossas vidas em risco.

      Abraços, Sueli, e obrigado pela visita e participação neste assunto tão sério.

      Pedro.

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  3. Triste, lamentável, real...
    Está assim e às vezes pior...
    Eu marquei a consulta com dois meses de antecedência, pois era a data disponível, quando cheguei lá, simplesmente dei com a cara na porta e fui informada pela secretária, que naquele dia trabalhava com médico da sala vizinha, de que a tal médica não atende mais pelo meu plano e naquele dia ela estava num congresso... nem se deram ao trabalho de me avisar... me senti uma palhaça...
    E o pessoal aqui fala que é um problema da nossa "cidadezinha", mas vejo que é geral...
    Abraço1

    http://www.educacaoinfantilnaescola.blogspot.com.br/

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    1. Simonha,

      Fico a imaginar a péssima situação de pessoas pobres, sem ninguém que por elas possam interceder, que ficam a mercê de hospitais, emergências e médicos...

      Há pouco tempo vi pela TV um documentário sobre o atendimento médico-hospitalar do Canadá, da Inglaterra e da França, onde o doente não fica sem ter um atendimento rápido, correto e sem custo algum. É de dar inveja...

      Abraços,
      Pedro.

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  4. Olá Pedro. Lendo seu texto lembrei de uma das poucas vezes que utilizei meu convênio, daqueles que nos são concedidos através dos pais e valem até o filho completar os dezoito anos. Era uma época que haviam muitos casos de dengue pela cidade. Nessa época eu apresentei dois sintomas: algumas manchinhas vermelhas pelo corpo e o corpo cansado a ponto de me prender na cama. Minha mãe resolveu me levar ao convênio. Estava lotado! Finalmente fui atendido e ao final da consulta o médico voltou-se a minha mãe e advertiu: "Mãe, você poderia esperar que seu filho apresentasse mais que três sintomas da dengue para trazê-lo. O convênio está cheio." A resposta da minha mãe foi objetiva. "Doutor, o convênio que dê conta de seus conveniados. Eu tenho o direito de usar o convênio quando eu precisar."

    Eu não estava com dengue. Mas eu precisava de um diagnóstico!

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    1. Hugo,

      Pelo seu comentário vejo que você também já teve esse desprazer de não poder contar com os préstimos do plano de saúde, que pensamos ser a tábua de salvação quando somos acometidos de alguma doença, ou quando queremos apenas ser submetidos a uma avaliação médica para vermos a quanto anda nossa saúde.

      E é numa hora dessas que compreendemos a revolta das pessoas que são atendidas por médicos do SUS, que é bem pior que nossos planos de saúde. Uma pena que seja assim.

      Grande abraço,
      Pedro.

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