8 de ago. de 2012

[Jazz] MILES DAVIS, TOM e JOÃO GILBERTO



                por Pedro Luso de Carvalho


        Nelson Motta conta, no seu livro "Noites Tropicais" (Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2000, fls. 402/403), passagens sobre o famoso Festival de Montreux, Canadá (desde 1978, o Festival Internacional de Jazz de Montreux' conta com a presença da música brasileira), onde Antonio Carlos Jobim e João Gilberto se apresentariam, entre outros músicos de renome internacional, dentre eles, Miles Davis. Vejamos o que Nelson Motta escreveu sobre esse encontro de feras da música nesse festival de Montreux (trecho):
  
         “Quando chego a Montreux, o diretor do festival, Claude Nobis, está eufórico: João Gilberto já chegou. Antonio Carlos Jobim é esperado a qualquer momento: vai dividir com João a Noite brasileira. Miles Davis também já chegou e Ella Fitzgerald, Kid Creole and the Coconuts, Astor Piazzolla e King Sunny Adé chegam nos próximos dias junto com estrelas que fazem as 20 noites do festival.
  
         João e Tom não se apresentam juntos há 23 anos, desde o histórico show do Au Bom Gourmet junto com Vinícius e Os Cariocas. E Claude está excitado com a possibilidade de que eles façam duas ou três músicas juntos: o festival é gravado inteiro para disco (e lançado pela Warner) e um dueto de tom e João é uma preciosidade. João não diz que sim nem que não e Tom está na Espanha fazendo Shows com sua Banda Nova e seu quinteto vocal feminino”.
  
         Prossegue Nelson Motta com sua narrativa: “No bar do cassino encontro os amigos Nesuhi Ertegun, big bos da Warner e grande fã de João, e Tommy LiPuma, que produziu “Amoroso”, um dos grandes discos de João. LiPuma também é o produtor de Miles Davis e diz que um dos seus grandes sonhos é juntar os dois, e que Miles adora a idéia. Diz que a música de João e de Tom mudaram o jeito de Miles tocar no início dos anos 60, quando gravou, com arranjos de Gil Evans, o seu histórico Lp Quiet Nigths”.
  
         Sobre Miles Davis devo dizer alguma coisa. Miles Davis foi, dentre os trobetistas, a estrela maior do estilo cool. Não se pode esquecer, no entanto, que teve como mestre nada menos que Charlie Parker e Lester Young, este um expoente do estilo cool. Em razão de sua constante evolução, Miles deixaria esse estilo para emigrar para o jazz rock, nos anos 70; Miles foi um dos inventores desse estilo. 
  
         No estilo jazz rock pode-se pensar que Miles deixara de lado a livre sonoridade, uma das principais qualidades do jazz negro; mas não. Em Miles essa livre sonoridade aparecia como neutra; foi descrita  como a de “um homem que pisa em ovos”: fina, leve, curiosamente velada. “Miles Davis deu novo sentido ao vibrato – diz André Francis -, dotando-o de uma estrutura rítmica extremamente nova em notas escolhidas (ponto em que deve algo a Charlie Parcker e Leste Young) engendrando assim um swing intenso”. (In  André Francis Jazz,  São Paulo: Martins Fontes, 1987.)
  
         Hoje, apenas podemos ficar imaginando nos palcos do Brasil, em Montreaux ou em qualquer parte do mundo, esses três gênios do jazz/bossa nova: Miles Davis, Tom Jobim e João Gilberto. Infelizmente, Miles e Tom já nos deixaram ,há algum tempo. Felizmente, ainda podemos ouvir João Gilberto cantar, acompanhando-se ao violão, em cujas audições haveremos sempre de homenageá-lo com o nosso silêncio, em atenção a essa exigência do mestre, que, convenhamos, merece.   


                        
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