[ESPAÇO DA CRÔNICA]
NÓS, MULHERES !
- Tais Luso de
Carvalho
Se
todas nós fôssemos belas, simpáticas e atraentes; se fôssemos ótimas amantes e
profissionais bem sucedidas; se cuidássemos dos filhos, da casa, da empregada e
fizéssemos parte de algum voluntariado... poxa vida, seríamos fantásticas!
Pois é, mas não estamos com toda essa bolinha apesar de sermos bombardeadas por
uma mídia que apela para sermos a 'Mulher-Maravilha', custe o que custar. E não
tendo muita estrutura para aguentarmos tal imposição, saímos
desatinadas à procura da academia mais próxima ou de uma clínica que nos
ofereça o pacote milagroso, ou seja, a promessa de virarmos um mulherão, pelo
menos em termos de beleza.
Malhamos como loucas, e, muitas vezes, saímos da academia com a sensação de
termos virado uma Barbie. Já estamos com a cabeça feita: mulher tem de ser
magra, esquelética, quase anoréxica.
Está tudo à nossa disposição: desde aulinhas cafonas, ensinando como sermos
mais sensuais, até um festival de implantes de silicone.
Sensualidade não se aprende, é algo espontâneo. Cada mulher tem a sua
peculiaridade; se não agradar aos gregos, agradará aos troianos...
O cuidado com nosso corpo é necessário, mas parece que perdemos o sentido exato
das coisas. Estamos parecidas com robôs: cabelos iguais, lisos e repartidos;
barrigas à mostra de todos os tamanhos e formas; muito silicone alterando
medidas equilibradas ou um festival de botox nos impedindo de sorrir, travando
nossa expressão facial.
Enfim, estamos uniformizadas; parece-me que fazemos parte de uma única escola,
tudo cai bem para todas: o que veste a magra, a gorducha abocanha. E mais:
temos ainda como opção, a lipoescultura. Essa técnica nos dá, de imediato, o
contorno corporal adequado. Fantástico! Mas nada contra a lipoescultura: falo
do exagero. E falo daqueles peitinhos horrorosos, exagerados, que carregam
frágeis criaturas parecendo embuchadas.
Mas depois de estarmos belas e formosas, de termos comido o pão que o diabo
amassou, saímos a desfilar em companhia do nosso barrigudo, careca e gordo. Mas
sendo homem, tá feito o embrulho; ma-ra-vi-lha! E não tem jeito: haverá sempre
um atenuante para esses lindos gorduchinhos, pois mulher quando gosta, mascara.
É uma atitude singular. Somos diferenciadas: trazemos à nossa vida amorosa,
aquela coisa de mãe, gostamos apesar de feios, gordos e barrigudos. Por isso é
que muitos estão tão à vontade...
Porém o contrário raramente ocorre: 'A gorda tem namorado? Bá... o cara tá
doente!'.
Mas falando sério, e apesar dessas firulas, podemos nos orgulhar diante da luta
pela nossa emancipação.
A nossa verdadeira história é marcada a ferro e fogo à procura de um espaço
nobre, seja nas artes, na literatura ou em outras áreas. Somos um exército
avançando e tomando posse do que nos é devido. Nada mais justo. E não seremos
'desaforadas' por pretendermos chegar a um cargo maior...
Bom seria se fôssemos reconhecidas pelo que escrevemos ou falamos e não por
termos lábios carnudos, peitos enormes e bumbum empinado.
Bom seria se fôssemos reconhecidas como profissionais capacitadas nas áreas
técnicas com o mesmo reconhecimento e remuneração dispensada aos homens.
Bom seria se, após uma vida de trabalho, não sentíssemos o desconforto por
estarmos aposentadas e o vazio de uma vida vista como improdutiva.
Bom seria se fosse reconhecido o nosso espírito de abnegação.
Bom seria se, na velhice, fôssemos cercadas de atenções, de paciência e de
amor. Bom seria, se tivéssemos o reconhecimento dos filhos, como mães amorosas
que tentaram acertar...
Mas ótimo seria se, na condição de mulher, não precisássemos matar um leão por
dia para provar do que somos capazes.
O que seria do botão sem a sua respectiva casa?
ResponderExcluirGostei muito do seu texto!
Abraço,
Amália
Amália,
ExcluirTaís e eu agradecemos sua visita.
Abraços.