[PEDRO LUSO DE CARVALHO]
No ano de 1940, a França
foi tomada pelas tropas alemãs, de Adolf Hitler. No ano seguinte, Albert Camus
ingressava no Movimento da Resistência. Sobre a Resistência, Jean-Paul Sartre
viria escrever mais tarde:
“Nada do que eu esperava
durante esse tempo (a ocupação) a França – com exceção do Movimento de
Resistência – nem sempre demonstrou grandeza de conduta. Mas é preciso lembrar
que a resistência ativa tinha de limitar-se, forçosamente, a uma minoria. E eu
creio que essa minoria, ao aceitar o martírio conscientemente e sem esperança,
mais do que redimiu a nossa fraqueza”. [Sartre, resistente, em France, Libre,
1944].
Nesse período, do qual se
refere Sartre, os alemães ocuparam Paris no período que compreende o dia 14 de
junho de 1940 ao dia 25 de agosto de 1944. Quanto a Camus e sua atuação, na
França, esta sob o domínio da Alemanha, o escritor ingressou no Movimento de
Resistência em 1941, tendo como suas atribuições a atividade de jornalista e de
coordenador de um setor de informações militares, vinculado ao grupo “Combat”.
Assim, Camus passa a viver, em parte, na clandestinidade, tendo os cuidados a
ela inerentes, tais como: reservas, cautela, astúcia, aparentes normalidades,
etc.
Inspirado nesse período,
em que a França esteve entregue às forças alemãs, Camus escreveu Cartas a um
amigo alemão (“Lettres a une ami allemand”), em 1945; e “Atuais. Crônicas da
atualidade” (Actuelles), em 1950; o livro, com as duas peças, foi
originalmente publicado em Paris pela editora Gallimard.
Segue trecho de A primeira carta, de Albert Camus (in Camus, Albert. Cartas a um
amigo alemão, Tradução de José Carlos Gonzáles e Joaquim Serrano. Lisboa: Edição
Livros do Brasil – Lisboa, p. 26-28). [Original: Editions Gallimard, 1945 e
1950].
[CARTAS A UM AMIGO ALEMÃO]
PRIMEIRA CARTA (trecho)
(Albert Camus)
[...] Tivemos que vencer
a nossa estima pelo homem, a imagem que tínhamos de um destino pacífico, a
convicção profunda de que nenhuma vitória é lucrativa, ao passo que a mutilação
do homem não tem remédio. Foi-nos preciso renunciar, simultaneamente à nossa
sabedoria e à nossa esperança, às razões que tínhamos de amar e ao ódio que
votávamos a todas as guerras. Numa palavra, e espero que você me compreenda,
vindo como vem de uma pessoa a quem você gostava de apertar a mão, fomos obrigados
a amordaçar a nossa paixão pela amizade.
Agora, o fato está
consumado. Foi-nos necessário tatear longamente o terreno, e atrasamo-nos. É o
desvio que o pudor da verdade obriga a fazer à inteligência, e o pudor da
amizade ao coração. Foi o desvio que salvaguardou a justiça, colocando a
verdade ao lado daqueles que se interrogavam. E não há dúvida de que o pagamos
bem caro. Pagamo-lo com as humilhações e os silêncios, com amarguras, com
prisões, com madrugadas de execuções, com abandonos, com separações, com a fome
quotidiana, com crianças desnutridas e mais do que tudo, com penitências
forçadas. Mas tudo isso estava certo. Precisávamos de todo esse tempo para
saber se tínhamos o direito de exterminar outros homens, se nos era permitido
aumentar a miséria atroz deste mundo. E é esse tempo perdido e reencontrado,
essa derrota aceite e ultrapassada, esses escrúpulos pagos com o sangue, que
nos dão hoje o direito, a nós, franceses, de pensar que entramos nesta guerra
com as mãos limpas – com a pureza das vítimas e dos convictos – e que vamos
sair dela com as mãos limpas – mas, desta vez, com a pureza de uma grande
vitória obtida contra a injustiça, e contra nós próprios. [...]
Julho 1943
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