por Pedro Luso de Carvalho
MARIO QUINTANA (1906-1994) foi poeta, jornalista e tradutor. Ao poeta foram concedidos os prêmios: Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de Escritores, e o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. (Essa mesma academia que não o recebeu para integrá-la - por três vezes candidatou-se para ocupar uma cadeira vaga -, o que, aliás, não foi necessário para que se tivesse tornado "imortal", como de fato tornou-se para os amantes da poesia.)
Segue a prosa-poética Trágico acidente de leitura, de Mario Quintana (In Quintana, Mario. Na volta da esquina. Porto Alegre: Editora Globo, 1979, p. 62).
[ESPAÇO DA PROSA POÉTICA]
TRÁGICO ACIDENTE DE LEITURA
(Mario Quintana)
Tão comodamente que eu estava lendo, como quem viaja num raio de luz, num tapete mágico, num trenó, num sonho. Nem lia: deslizava. Quando de súbito a terrível palavra apareceu, apareceu e ficou, plantada ali diante de mim, focando-me: ABSCÔNDITO. Que momento passei!... O momento de imobilidade e apreensão de quando o fotógrafo se posta atrás da máquina, envolvido os dois no mesmo pano preto, como um duplo monstro misterioso e corcunda... O terrível silêncio do condenado ante o pelotão de fuzilamento, quando os soldados dormem na pontaria e o capitão vai gritar: Fogo!
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário
LOGO O SEU COMENTÁRIO SERÁ PUBLICADO.
OBRIGADO PELA VISITA.
PEDRO LUSO