21 de jun. de 2011

BERTRAND RUSSELL / Como escrevo

Bertrand Russell



        Não me é possível afirmar que saiba como se deveria escrever, ou o que me aconselharia a fazer um crítico sensato, tendo em vista melhorar minha própria maneira de redigir. O máximo que posso fazer é relatar algo acerca de minhas próprias tentativas nesse sentido.

        Até os vinte e um anos, desejei escrever mais ou menos no estilo de John Stuart Mill. Agradava-me a estrutura de suas frases e sua maneira de desenvolver um tema. Já tinha, no entanto, um ideal diferente, derivado, suponho, da matemática. Desejava dizer tudo empregando o menor número de palavras com que se pudesse escrever com clareza . Talvez se devesse, pensava eu, imitar o Baedeker, de preferência a qualquer modelo mais literário. Costumava passar horas tentando encontrar a maneira mais curta de dizer as coisas, sem ambigüidade, disposto a sacrificar a tal objetivo todas as tentativas no sentido da excelência da estética.

        (...) Sugiro aos professores jovens que seu primeiro trabalho seja escrito num jargão que só possa ser entendido por alguns poucos eruditos. Depois, então, poderão dizer o que tiverem que dizer numa linguagem que “todos entendam”. Em nossos dias, quando nossas próprias vidas estão a mercê dos professores, não posso deixar de pensar que eles mereceriam a nossa gratidão se adotassem este meu conselho.


                                          (Bertrand Russell – trecho de “Como escrevo”)



REFERÊNCIA:
RUSSELL, Bertrand. Retratos de Memória - e outros ensaios. Tradução de Brenno Silveira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958, p. 189, 192.



3 comentários:

  1. Boa tarde, Pedro!

    Interessante a visão de Bertrand sobre o que deveriam adotar os jovens professores: antes da liberdade de escreverem como melhor lhes aprouvesse, que escrevessem para o entendimento dos poucos eruditos. Antes ele afirma que sacrificaria a estética em função dessa mesma liberdade de escrever, em busca talvez de estilo próprio, embora tenha citado outros que possam tê-lo influenciado. Entendo que a literatura é o canal de expressão de nossas próprias convicções, que nem sempre passariam pelo crivo dos eruditos. Contudo, não é a forma de escrevermos livremente, que nos torna diferenciados e que fazem da literatura, um veículo de levar satisfação ao leitor?

    Pedro, tenho visitado seu blog, embora não tenha deixado comentários. É um espaço rico e de gratificantes leituras.
    Um abraço,
    Celêdian

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  2. Celêdian,

    Lendo-se apenas esses trechos de “Como escrevo”, parece mesmo que Bertrand Russell entra em contradição no que diz, mas no texto integral não se fica com essa dúvida.

    Também devemos levar em conta que Russell diz 'como escreve' seus trabalhos filosóficos ou crítica literária, já que não escrevia ficção literária – conto, novela ou romance. Tanto que ele menciona o exemplo de seu cunhado, Logan Pearsall Smith, no tocante a escrita literária: (...) “Naquela época, ele se achava interessado, exclusivamente, pela questão do estilo, ao invés do conteúdo. Seus deuses eram Flaubert e Walter Pater e senti-me inteiramente pronto a acreditar que a maneira de aprender a escrever era copiar sua técnica” (...)

    Abraços,
    Pedro.

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  3. Write and send our thoughts is very difficult, if not pass by words.
    Writing and speaking is about communicating,
    convey our thoughts or what we know
    others so that others understand perfectly
    What we are saying.
    All writing and speaking, few communicate and transmit

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PEDRO LUSO

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